segunda-feira, 26 de agosto de 2013


Preparação remota - o exemplo dos pais é ponto de partida

 

O estilo cristão de vida, testemunhado pelos lares cristãos, é já uma evangelização, é o próprio fundamento da preparação remota


Há quinze dias, em nossa coluna (Edição do Zenit de 09 de Agosto) falávamos da necessidade de se planejar estrategicamente também para a formação de nossa família, pois assistimos (ou vivemos) a um grande desequilíbrio de valores onde vale tudo na incansável busca de sucesso profissional, financeiro e um futuro garantido.

Nesta maratona, posso dizer que a grande maioria dos católicos fazem da preparação para o matrimônio, assim como fazem da catequese, uma ação delegada unicamente à Igreja através das organizações diocesanas e paroquiais.

Sim, a Igreja assume importante fatia desta responsabilidade e para isto deve, além de fazer do matrimônio um tema constante em todos os seus momentos, organizar ocasiões estruturadas para a formação dos casais através da preparação próxima e imediata, que serão oportunamente aqui abordadas.

Mas o início desta construção deve ocorrer no seio da família, ainda distante da data do matrimônio, o que é chamado de preparação remota. É aí que as crianças percebem como seus pais são felizes e se esforçam para fazer viver o compromisso assumido com muita disposição e fé. "O estilo cristão de vida, testemunhado pelos lares cristãos, é já uma evangelização, é o próprio fundamento da preparação remota", nos afirma o documento Preparação para o Sacramento do Matrimônio, do Conselho Pontifício para a Família.

Fazendo um paralelo com o planejamento estratégico em uma corporação, o primeiro passo é mostrar aos colaboradores os valores daquela empresa, pois se eles não acreditam na proposta, não serão  motivados a doarem-se por ela. Por outro lado, o colaborador que é conquistado pela empresa, almeja seu futuro ali mesmo e investe seu potencial para se consolidar e crescer neste ambiente. Na família não é diferente, quando os filhos percebem que a vida de seus pais é um caminho de doação e realização para toda a família, com valores especiais e perenes, sentem-se motivados a trilhar o mesmo caminho. Note como é comum que os filhos, em sua primeira infância, sonhem com a carreira de seus pais.

Mas quando o tema é casamento, não é raro escutar brincadeiras infelizes até dentro dos lares católicos. Casamento? Uma prisão de luxo! Vai se enforcar?  Ou ainda expressões circulam de modo tão comum e nem analisamos, como: Ah, já orientei meu filho a primeiro curtir bastante a vida para depois se casar!

Querem dizer, então, que o casamento é o oposto de se curtir a vida?  Há ainda os pais católicos que não acreditam que o casamento é "até que a morte os separe", simplesmente dizendo: Filha, constrói a sua vida antes de casar, pois se não der certo...  Levando-se em conta que o matrimônio é um Sacramento, a mim, isto parece o mesmo que dizer a um seminarista: trabalha e faz seu patrimônio antes de ser ordenado...

Já não são muitos os que buscam o matrimônio e, como já comentou o Papa Francisco, talvez a metade dos que se casam não tenham real conhecimento do passo que dão. E como se não bastasse a clara campanha contra a família coordenada por fortes instituições, muitos cristãos, mesmo sem intenção de fazê-lo, incorporam a mentalidade antimatrimônio aos seus hábitos. Por estas e muitas outras não tenho qualquer receio em dizer que o matrimônio poderia ser objetivo de vida de muito mais pessoas se não houvesse a propaganda negativa feita pelos próprios cristãos.

Mais uma vez, o documento Preparação para o Sacramento do Matrimônio toca neste ponto ao comentar sobre como deve ser o comportamento dos pais: "Um tal estilo de vida cristã encontra o seu estímulo, apoio e consistência no exemplo dos pais que se torna para os nubentes um verdadeiro testemunho."

Os pais devem ser os primeiros responsáveis pela primeira etapa de preparação para o Matrimônio: a preparação remota. Para isto devem se dedicar para que seus matrimônios cresçam continuamente através da busca de formação e vida de oração, para que isto frutifique em vida de doação. Além do exemplo e ensinamento doméstico, também deve integrar seus filhos na vida da Igreja através de suas próprias participações ativas.Devem se planejar e se comprometer. Muitos são os grupos que ajudam nesta caminhada, como Pastoral Familiar, Encontro de Casais com Cristo, Movimento Familiar Cristão, Ministério das Famílias-RCC e vários outros. Em algum deles há um lugar esperando por sua família.

Se você é casado, lanço a pergunta: Qual foi o último livro que leu, com sólidas bases cristãs, para o crescimento de seu casamento? Se é solteiro, pergunto o que tem estudado para discernir ou consolidar sua vocação? Se é um presbítero ou um(a) consagrado(a), pergunto que ações de formação familiar tem promovido em sua comunidade?

Permita-me testemunhar o sentimento de um de nossos filhos. Ainda muito longe de sermos o que Deus espera de nós, ao menos o esforço por construir um lar e a alegria de viver em família são claramente percebidos por eles. Nosso primeiro filho, João Bosco, com 11 anos, há pouco tempo, perguntou: Mãe, quem ganha mais, um piloto ou um cientista? Minha esposa respondeu que não sabia exatamente, mas que qualquer profissão, seguida com carinho, lhe daria a realização. Ele respondeu: Não mamãe, não é por isso. É que quero saber se dá pra ter uns cinco filhos!

Dias depois, nossa quarta filha, Maria Paula, com 4 anos, sem ter presenciado a pergunta do João, também chegou comentando: Quando eu crescer vou ser mãe e ter cinco filhos!

Paz e bem!

André Parreira (alparreira@gmail.com), da diocese de São João del-Rei-MG, é autor de livros sobre a preparação para o matrimônio e responsável no Brasil pelo DVD "Sim, Aceito!", lançado em parceria com a Pastoral Familiar da CNBB. Empresário, casado e pai de 6 filhos, colabora na formação de jovens e casais.

(23 de Agosto de 2013)

 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013


Matrimônio: entre crise e beleza


O verdadeiro problema atual não é a crise no casamento, mas sim a crise de fé, que não permite ao homem reconhecer a beleza do matrimônio e dos dons de Deus.

 


Roma, 07 de Agosto de 2013  Pe. Anderson Alves 

Fala-se muito ultimamente de casamento. Esse parece ser um direito de todos e, ao mesmo tempo, tem-se a impressão de que se sabe cada vez menos o que ele realmente é. Existem muitos casamentos que se rompem e é ainda maior o número de pessoas que não se decidem jamais a se casar.

A Palavra de Deus também fala muito do matrimônio, no contexto da revelação de Deus à família humana. Jesus ensina que o casamento é algo sagrado, um gesto com o qual um homem e uma mulher se tornam um só corpo e alma por toda a vida. E o Senhor sempre acolheu e abençoou as crianças, o fruto natural do casamento. Deus revela-se então como alguém que ama e abençoa as famílias; na verdade, ele quis que o homem viesse ao mundo através das famílias e Ele mesmo se fez homem no seio de uma família humana. O Deus que é único, grande e todo-poderoso fez-se criança em Jesus, vivendo por trinta anos, submetido a uma família.

O Evangelho fala-nos, sem dúvida, da santidade e indissolubilidade do matrimônio: aqueles que se casam, tornam-se uma só carne e nada pode separá-los. Mas estas palavras para nós, homens do século XXI, são fonte de certo desconforto e confusão. Sabemos que mais de 40% dos casamentos falham, e muitos querem considerar “direito” separar o que Deus uniu. Esta é uma verdadeira tragédia atual, que causa dor e sofrimento, especialmente nas crianças. O casamento parece ser uma escolha de poucos e algo sem nenhum valor. Nesta situação, as crianças são cada vez mais raras e chegam quase a desaparecer.

No entanto, se o homem olha para si mesmo, percebe que possui um grande desejo de amar outra pessoa totalmente, para ser feliz, fazendo outra pessoa feliz. Todo homem tem o desejo de doar-se totalmente, pois o amor ou é total ou simplesmente não existe. O amor exige a eternidade, a perfeita doação. Mas porque temos este desejo e, ao mesmo tempo, parece ser impossível de realizá-lo?

Este grande desejo existe, porque a nossa vida é um dom gratuito, recebido de Deus. Não viemos à existência por nós mesmos, mas por causa do amor de outras pessoas. Deus nos criou livre e gratuitamente, sem pedir nada em troca, porém isso se realizou através do amor de nossos pais. Por esta razão, o homem só pode ser realizado quando se entrega, doando a Deus e aos outros os bens recebidos.

Uma das maneiras – certamente não a única – de entregar-se totalmente a Deus e aos outros é o matrimônio. Os cônjuges que se amam, acima de tudo amam a Deus, fazem de suas vidas um dom recíproco, encontram um caminho para a felicidade e podem cooperar com Deus no poder único de gerar vidas. O verdadeiro amor é absoluto, exige a totalidade do tempo, a abertura à vida, o desejo de entregar-se para sempre. Aquele que ama verdadeiramente busca doar-se completamente, e quando o amor é doado, não se perde ou extingue, mas cresce e frutifica. O amor é destruído somente quando uma pessoa se casa pensando em fazer-se feliz e não descobre que só existe um caminho para a felicidade: buscar a felicidade da pessoa amada.

Além disso, Deus quis que o casamento fosse um Sacramento, um sinal sagrado que dá aos homens a capacidade de doar-se em um amor total e fecundo para toda a vida. “Nosso Salvador foi ao casamento de [Canaã] para santificar as origens da vida humana” [1]. E o Sacramento pressupõe a igualdade da dignidade de homem e mulher, assim como a complementaridade. O livro de Gênesis diz que Adão, após a criação, viu todos os animais e não encontrou nenhum que lhe fosse semelhante. Em seguida, o texto bíblico usa uma bela imagem poética: a mulher foi criada a partir de uma costela do homem. A imagem significa que a mulher é igual ao homem em dignidade. Ela não foi feita dos pés de Adão, porque não é inferior a ele; nem mesmo pode-se dizer que Deus tenha tirado o cérebro do homem para fazer a mulher. Deus a criou a partir da costela do homem, porque é a parte do corpo humano que está mais próxima ao coração. Assim, quando Adão viu Eva gritou de alegria: “Esta é, realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne. Ela será chamada mulher, porque foi tomada do homem” (Gn. 2, 22-23).

O Beato João Paulo II, comentando estes textos, disse que Deus criou todas as coisas com ordem, começando pelas mais simples, como a luz, a água, a terra, e terminou com as mais complexas: o homem e a mulher. Por conseguinte, a mulher é mais a criatura mais “perfeita” do universo e a mais complexa. Por esta razão, os homens são incapazes de entender as mulheres e o demônio quis tentar em primeiro lugar à mulher. Ele sabia que, uma vez destruída a dignidade da mulher, toda a criação viria à ruína. Ele agora usa a mesma estratégia: destruir a figura da mulher para pôr em crise toda a sociedade.

Homens e mulheres são semelhantes e estão ligados pelo coração; mas para permanecer fiel um ao outro necessitam de Deus, da sua graça, que é dada especialmente no dia em que recebem o Sacramento do matrimônio. A graça, porém, necessita ser alimentada diariamente, através da oração comum, da participação nos demais Sacramentos. O verdadeiro problema atual não é a crise no casamento, mas sim a crise de fé, que não permite ao homem reconhecer a beleza do matrimônio e dos dons de Deus. Quem se afasta de Deus, se esquece de que o homem é uma criatura que só se realiza através da doação livre e gratuita. Peçamos ao Senhor que as famílias cristãs sejam capazes de encontrar sua força em Deus e que os jovens não tenham medo de realizar o plano que Deus tem para eles.


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NOTAS

[1] São Cirilo de Alexandria, In Ioannem Commentarius, 2, 1 [PG 73223].

 



terça-feira, 13 de agosto de 2013

Amor e sexo na vida conjugal

A falta de atitude desgasta qualquer relacionamento
Dentre as muitas definições que arriscamos fazer sobre a palavra “amor”, nenhuma delas poderá ser eficaz se não houver o comprometimento das pessoas naquilo que lhes traz a realização mútua.

Algumas pessoas vivem seu relacionamento conjugal de maneira bastante turbulenta, com abusos, violência ou em situações de egoísmo que jamais poderiam ser estabelecidas num convívio, o qual tem como princípio o crescimento comum. Tal relacionamento, se assim permanecer, alcançará uma condição insustentável, fazendo com que um dos cônjuges opte pela separação, ainda que tenham se casado por amor.

Todavia, muitos casos de separação não acontecem somente pelas agressões sofridas por um dos cônjuges. Outras situações podem fazer com que os casais vivam a separação silenciosa, a qual facilmente poderá resultar no rompimento do compromisso conjugal ou permitir a abertura para relacionamentos paralelos, alegando que o amor e o encantamento do início tenham desaparecido entre eles.

Muito se comenta sobre a necessidade de o casal fazer o resgate do romantismo, mesmo tendo acumulado algumas dezenas de anos de vida conjugal. Mas o que eu tenho recebido como resposta é a dificuldade em recuperar tal sentimento devido às muitas “cinzas” surgidas sobre “as brasas” daquele amor que originou o casamento. Isso porque a falta de comprometimento e de atenção às outras queixas – inclusive no que diz respeito à vida sexual do casal – esvaziou-se ao longo do tempo.

Conhecemos as responsabilidades e os compromissos que envolvem a vida conjugal, aquilo que é o prático para a manutenção do lar e da família. Dessas atividades, parece ser prioritário tanto para as esposas quanto para os maridos o cumprimento de seus afazeres estabelecidos como metas do dia, mesmo que para isso eles tenham que aplicar todo seu esforço físico. Dentro dessa dinâmica própria da vida conjugal, os casais podem deixar-se envolver pelas muitas atividades que compreendem o seu dia a dia.

Contudo, é importante para eles se lembrarem de também valorizar outras atitudes que alimentam e fazem a manutenção do amor que desejam nutrir na relação entre homem e mulher, pois, se quando eles eram apenas namorados, foram capazes de fazer todas outras coisas e ainda disponibilizar de um tempo para se prepararem para a (o) namorada (o), hoje as manifestações de carinho para com o cônjuge precisam ter o mesmo grau de importância.

Os momentos de namoro entre os casados não podem acontecer ou serem esperados apenas nas ocasiões de celebração como aniversários de casamento ou em uma viagem, tampouco podem ficar presos a dias específicos da semana.

Se as inúmeras tarefas domésticas, tanto para o marido quanto para a esposa, roubam esses momentos, talvez fosse interessante para os cônjuges incluir, naquilo que é de suas ocupações, também a vivência da intimidade como parte integrante do relacionamento.

A falta de atitude para uma mudança desgasta qualquer relacionamento e, no caso do casamento, poderá minar até mesmo o desejo em trocar beijos mais calorosos ou criar outros momentos de sedução, os quais poderiam propiciar a intimidade.

As bases para esses momentos acontecem quando lembramos que o nosso cônjuge também tem desejos íntimos e espera vivê-los com quem se casou. Vale notar que tal momento, mais que extravasar a libido, deverá ser resultado de outros gestos que ratificam uma união, na qual, seus efeitos extrapolam no tempo e no contato físico. Tudo ganha um novo significado.

Assim, para evitar as famosas escapulidas ou justificativas como o cansaço, a falta de disposição, o sono, a preguiça e a mais conhecida de todas as desculpas – a dor de cabeça – para se esquivarem da intimidade conjugal, o casal optaria por aplicar também para a vida sexual o mesmo grau de interesse com que valorizam suas outras obrigações.

É certo que o trabalho, as obrigações com a família e o lazer são importantes, contudo há uma maneira própria de cada um fazer o cônjuge se sentir sempre o “número 1” como foi em tempos de namoro.

Um abraço!

Foto Dado Moura
contato@dadomoura.com
Dado Moura é membro aliança da Comunidade Canção Nova e trabalha atualmente na Fundação João Paulo II para o Portal Canção Nova como articulista. Autor do livro Relações sadias, laços duradouros e Lidando com as crises
Outros temas do autor: www.dadomoura.com
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segunda-feira, 12 de agosto de 2013


PAI HOJE
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
 


É importante refletir sobre a figura do pai na Semana da Família. Não basta celebrar o “Dia dos Pais” se não pensamos na revitalização de seu compromisso paterno hoje. É hora de olhar para a figura de José, o pai de Jesus e sua ação na Família de Nazaré. Nele encontramos todas as qualidades essenciais para ser um bom pai.

A Palavra de Deus fala de estar com os “rins cingidos e as lâmpadas acesas” (Lc. 12, 35). Também do dono de uma casa que está sempre preparado para uma possível chegada de ladrões. Assim deve ser quem vai ser ou é pai, alguém que teve o cuidado de se preparar, buscando o caminho para uma boa formação no campo da missão paterna. Podemos dizer que ser pai é como encontrar uma pérola, uma condição de grandeza e de ser participante da missão criadora de Deus. Mas também é importante ter atitudes de carinho, influenciando grandemente na formação de caráter dos filhos. Gerar sem educar para a vida humana pode ser apenas um ato animalesco.

É falta de compromisso um pai abandonar mãe e filhos, deixando de contribuir com seu amor e bom exemplo. O bom pai é aquele que gera, cria, educa, ama, ensina e está sempre presente na vida do filho. Sabemos que isto não é fácil nos dias de hoje. A sociedade tem valorizado pouco a família, deixando os pais desarmados para a ação que é de responsabilidade deles. Recuperando a identidade da família e a missão dos pais, principalmente do pai, teremos um mundo melhor. Para isto é necessário equilíbrio entre o ser pai e o ser filho. Ambos precisam selecionar o que é melhor para a vida, não se deixando levar pelas maldades que chegam, especialmente via Internet.

É fundamental aprimorar alguns princípios que ajudam na direção da vida familiar, e que dependem muito da ação do pai. Entre eles destacamos: o conceito de vida, de honestidade, de colaboração, de fraternidade e alteridade. Que Deus abençoe todos os pais.

Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/articulistas/dom-paulo-mendes-peixoto/12546-pai-hoje